GOVERNADOR ANUNCIA PRORROGAÇÃO DO FECHAMENTO DAS ESCOLAS NA BAHIA

Durante #PapoCorreria, transmitido ao vivo pela internet nesta terça-feira (7), o governador Rui Costa informou que as escolas públicas e privadas de todo o estado terão o período de fechamento adiado por conta da pandemia do novo coronavírus.

"Vamos prorrogar o fechamento das escolas. Ainda não está no momento de nós pensarmos na abertura. Vamos acompanhar as próximas duas, três semanas, para ver como se comporta a curva de contaminação na Bahia", afirmou. Um decreto estadual publicado em 19 de março suspendia por 30 dias as aulas, mas uma nova data para o fim da medida será definida e anunciada pelo governador nos próximos dias. 

Rui disse ainda que as cidades baianas sem casos registrados de coronavírus por 15 dias, ou seja, até o próximo domingo (12), terão flexibilidade nas regras de isolamento. "É desta forma que vamos conseguir controlar e manter um ponto de equilíbrio entre a vida humana e alguma atividade necessária pra manter emprego e renda na vida das pessoas. É preciso um ajuste fino, um controle muito detalhado de cada região e é isto que estamos fazendo dia e noite para garantir o controle e a vida do ser humano", destacou. 

Atualmente, 62 cidades baianas estão com transporte intermunicipal suspenso até 15 de abril, por determinação do governador. Também até esta data está proibida a circulação, a saída e a chegada de ônibus interestaduais, em todo território do Estado da Bahia.

Esta edição do #PapoCorreria teve participação do secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, e está disponível, na íntegra, nos perfis oficiais do governador no Youtube, Instagram e Facebook. (Fonte: /GOVBA)
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COVID-19: CONFINAMENTO E DISTANCIAMENTO SOCIAL PREOCUPAM PSICÓLOGAS QUE ATUAM NO VALE DO SÃO FRANCISCO

A situação inédita de confinamento em casa e distanciamento social entre as pessoas por causa de um vírus em pleno século 21 cabe no enredo de romances distópicos ou de filmes apocalípticos de ficção científica. 

Na realidade, entretanto, essa trama pode vir recheada de desconfortos, situação de stress, desequilíbrio emocional e até alguma neurose, alertam psicólogos. Em tempo de novo coronavírus é preciso prestar atenção e cuidar da saúde mental no dia a dia.

A situação vivida em todo o planeta era impensável há poucos meses por causa do domínio absoluto da ciência e da disponibilidade de tecnologia para inclusive deter doenças. “Nossa geração estava muito vaidosa de que não experimentaria riscos de morte em massa, como ocorreu no passado. A natureza, agora, impõe nova realidade.” Para ela, a situação nos desequilibra, “mexe a fundo com o bem-estar e abala as relações entre as pessoas”, enfatiza, Lydiane Streapco, professora de Psicologia, do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.


A reportagem do BLOG NEY VITAL conversou com profissionais da psicologia para entender melhor como é possível cuidar da saúde mental em tempo de distanciamento social.

A psicóloga e apresentadora do Programa Inteiramente Mulher, Rádio Cidade Am870, Camila Helena, afirma que na atual situação de pandemia da COVID-19 é comum ter sentimentos e emoções negativas, como medo, tristeza, raiva e solidão, além de ansiedade e estresse.

De acordo com Camila Helena o excesso de notícias sobre a pandemia, a mudança de rotina, o distanciamento físico e as consequências econômicas, sociais e políticas relativas ao novo cenário podem aumentar ou prolongar esse desconforto emocional.

Assim, a seguir, estão algumas dicas de como manter o bem estar mental, neste momento de isolamento:
1- Fique em contato com sua rede de amigos e familiares. Apesar da necessidade do isolamento físico, atualmente podemos contar com a tecnologia a nosso fator, realizando vídeo conferência, ou mantendo-se conectado com as pessoas através das redes sociais e telefone. 

2- Preste atenção aos seus sentimentos e busque atividades saudáveis. Exercícios físicos, sono regular e boa alimentação ajudam. Se precisar, você pode buscar informações a respeito desses temas através de tutoriais no YouTube e Instagram.

3- Busque fontes de informações confiáveis e procure se informar também de coisas positivas, dos avanços e das separações. O excesso de informações negativas podem levar ao estresse e à ansiedade.

4- Crie uma rotina prazerosa. Procure criar uma agenda com suas tarefas diárias, alternando as obrigações de trabalho, casa etc, com aquilo que você gosta e que te faz bem... por exemplo, sabe aquele livro que você está a um tempão namorando? Talvez esse seja o momento de ler...

5- Procure ajuda. Saiba que algumas pessoas lidam melhor com algumas situações do que outras e que caso esteja sendo muito difícil lidar com o turbilhão de emoções presentes neste momento de crise, você pode buscar ajudar psicológica. Muitos psicólogos neste momento de pandemia estão atendendo de maneira online.

A psicóloga, psicopedagoga, mestre em educação Adriana Miron, avalia que a pandemia e todos os problemas em torno do tema relacionado à possibilidade de adoecimento e morte em massa é um fenômeno que contribui para o aumento do medo e, consequentemente, da ansiedade.

Adriana ressalta que diante do que estamos vivenciando, está cada vez mais difícil relaxar, porém, é de suma importância considerar que o equilíbrio emocional nesse momento é algo que pode contribuir em larga escala para que outros problemas não prejudiquem ainda mais.

"Estamos vivendo um processo de "luto", seja provocado pelas mortes em massa, seja pela perda da sensação de "liberdade". O luto, por si só, já é algo que gera sofrimento, então é normal que as pessoas se sintam angustiadas. Viver esse sentimento, permitir-se chorar e sentir também nos ajuda no enfrentamento desse problema", revela Adriana.

"Sabemos que estar em casa por vontade própria, por querer descansar, curtir a casa é bem diferente de ter que ficar em casa, ainda mais quando utilizamos o termo "isolamento". Isso faz com que as pessoas sintam-se presas, confinadas, o que é uma obrigatoriedade. Além disso, o distanciamento social, priva e limita o contato físico, tão inerente ao ser humano e isso pode aumentar o estresse e a ansiedade".

Algumas dicas podem ajudar a melhorar a nossa saúde mental durante os desafios da pandemia:

"Inicialmente, é importante lembrar que a auto-cobrança pode nos prejudicar nesse processo. Permita-se sentir e vivenciar os sentimentos sem cobranças. É normal ter oscilação de humor e de sentimentos. Outro ponto já destacado é a importância de organizar a rotina; ideal que isso seja feito de forma escrita, por exemplo, uma vez que o cérebro entende melhor quando visualiza; deixar essa rotina à mostra, ajudará o seu dia fluir melhor. É importante incluir nessa rotina o seu tempo particular para relaxamento, um banho mais longo, meditar, ouvir música, ler um livro, fazer exercício físico... tudo isso pode ajudar a espairecer nesse momento", explica Adriana.

A psicóloga Célia Fernandes, também está se adaptando e atendendo seus pacientes de casa por meio do computador e do celular. As tecnologias que viabilizam o teletrabalho, compras e diversão, não contornam, entretanto, os problemas da interação humana.

Segundo ela, conflitos podem surgir na família, entre pais e filhos e entre os casais. “O conflito é normal. Precisamos trabalhar a comunicação, compreender que temos personalidades diferentes e interesses diferentes.”

Célia recomenda a organização e o estabelecimento de regras sobre a divisão do tempo e do espaço que permitam o trabalho e a rotina de descanso. Para quem tem filhos, é importante dar atenção às crianças e ao lazer infantil. 

Já para adultos, é importante incluir na rotina a realização de atividades de interesse pessoal, como estudo, leitura ou diversão – como assistir filmes e até maratonar diversos episódios das séries preferidas. “Como já ocorria em finais de semana. Precisamos adotar medidas comuns, já que vamos passar mais tempo juntos.”
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O CANTO JOVEM DE LUIZ GONZAGA SEMPRE NA MIRA DOS NOSSOS CORAÇÕES

Porque estamos no mês de abril, vou recontar esse momento sutil. Enquanto descia de Santa Teresa, num tempo bem passado, com o ator Beto Quirino, com o saudosíssimo poeta Chico Salles e com o também poeta Ivamberto Albuquerque, eu procurava na imaginação o disco gonzagueano no qual o Rei do Baião encantara para a eternidade suas versões para canções completamente estranhas ao seu repertório tradicional.

O Canto Jovem de Luiz Gonzaga veio e vem, de certa forma, contrapor-se ao discurso segregador. Procurando um melisma que também avoasse pelo dissonante, a sanfona e a voz do bardo encaixaram-se com certa delicadeza, mastigando mansamente as notas quase deslocadas da bossa nova e do tropicalismo.

Naquele disco não havia arranjos sertanejos, rascantes, severos. Havia, e está lá, um diálogo com o que se chamava, na época, de novo, de jovem. Gonzaga teve coragem, enfrentou. A célebre Caminho de Pedra, de Tom e Vinícius, é um ponto a se prestar bem atenção. Em Asa Branca, com alguma novidade no arranjo, a participação de Gonzaguinha marcará o reencontro de pai e filho.

Seguem-se Nelson Mota, Dori Caymmi, Antonio Carlos e Jocafi, Capinan e Edu Lobo, presentes. Note-se a fotografia de capa tendo como cenário o Edifício Avenida Central, no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro. Note-se, ainda, a pose e o figurino atualizado à cidade e à moda bossanovidadosa. As faixas:

Chuculatera (Jocafi – Antônio Carlos)
Procissão (Gilberto Gil)
Morena (Gonzaguinha)
Cirandeiro (Capinan – Edu Lobo)
Caminho de Pedra (Tom Jobim – Vinicius de Moraes)
Asa Branca (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)
Vida ruim (Catulo de Paula)
O milagre (Nonato Buzar)
No dia que eu vim me embora (Caetano Veloso – Gilberto Gil)
Fica mal com Deus (Geraldo Vandré)
O cantador (Nelson Motta – Dori Caymmi)
Bicho, eu vou voltar (Humberto Teixeira)

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões. Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos.

Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O olhar de Gonzaga furou o ventre de todas as coisas e seres, escaneou suas vísceras, revirou seus mistérios, escrutinou suas entranhas. A mão do homem deslizou pelas teclas sensíveis da concertina, seus dedos pressionaram os pinos, procurando os sons baixos e harmônicos. Os pés do homem organizavam o primeiro passo, sentindo o caminho, testando o equilíbrio. A cabeça erguida, o queixo pra frente, a barriga desforrada e o pulmão vertendo cem mil libras de oxigênio, vibrando as cordas vocais: era Lua nascendo.

O peito de Gonzaga abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento, sempre na mira de nossos corações. (Fonte: professor doutor em Ciência da Literatura Aderaldo Luciano)
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SUÍTE NORDESTINA, IDENTIDADE E PROGRAMA RÁDIO NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS

O IPHAN recebeu o pedido para transformar o Forró em Patrimônio Imaterial do Brasil. Mesmo que o órgão não consiga prosseguir, depois falarei sobre isso, independente de qualquer querer das elites, o forró é a música patrimonial do Brasil. E todos sabemos que o Brasil não é só samba, sertanejo, axé e funk. 

O Brasil é verdadeiramente uma grande sala de chão batido, uma sala de reboco, com folhas de eucalipto espalhadas e lá no canto da parede um trio tocando sanfona, triângulo e melê. Quem não souber o que é um melê, procure saber, forrozeiro não é.

A juventude forrozeira tem como base para seu gosto, geralmente, os acordes de Luiz Gonzaga, as sincopadas de Jackson, a genialidade de Dominguinhos e a leveza de Sivuca. De vez em quando adentram no universo dos trios e têm no Trio Nordestino a voz das vozes de Lindú; entram pelo swing de Os Três do Nordeste, com Parafuso rodopiando assustadoramente; entranham-se pelo Trio Mossoró, com a identidade mais sertaneja de João Mossoró; alguns distanciam-se um pouco mais no tempo e chegam ao Trio Nagô ou ao Trio Marayá.

Mas quero trazer para os amantes da arte forrozal quatro pilares para nossa sala. Não sei mais qual foi o ano no qual estreamos na Rádio Serrana de Araruna, ZYI 692, AM 590, aos domingos, entre 6 e 9 das manhãs paraibanas. Éramos três a escrever o Suíte Nordestina: Ney Vital Guedes, Pedro Freire e eu. Depois veio Ednaldo da Silva, o Dina. Fernando Oliveira na sonoplastia.

Procurávamos não ficar na mesmice e vivíamos a vasculhar as feiras do brejo em busca de discos de artistas anônimos e outros que não chegavam em nosso cidade. Os sebos de Campina Grande e João Pessoa eram vasculhados, visita a amigos da zona rural, era uma caçada épica. No repertório dos discos de vinil tocávamos não os carros chefes, mas músicas de boa qualidade escondidas nas 12 faixas tradicionais.

Nessas buscas encontramos o magnífico Azulão. A primeira canção do mestre de Caruaru que toquei no rádio foi Apanhadeira de Café, de Brito Lucena e Azulão. Uma marchinha que eu ouvia de Xuxu, um vizinho que, quando bebia, a cantava com uma emoção de doer o peito da gente. De Azulão a Jair Alves, cognominado O Barão do Baião, foi um pulo. 

Comprei o disco em Remígio e corri pra casa para ouvir. Chamou-me atenção o baião Aproveita a Maré, de Valdrido Silva e Humberto de Carvalho. Quando ouvi fiquei meio aéreo com um baião que não falava de seca, nem de amor perdido, mas do mar, das sereias e seus cantos. A eles, certa vez, juntou-se Assisão, que tempos depois viraria febre nas rádios com Eu Fiz Uma Fogueirinha. Mas Sebastião do Rojão foi quem surpreendeu-me com canções que iam entre o baião e o bolero, entre o rojão e a dor de cotovelo. Foram os quatro cavaleiros durante um bom tempo em minha radiola Aiko e nas ondas da Rádio Serrana, no Suíte Nordestina. (Fonte: Aderaldo Luciano Doutor em Ciência da Literatura)
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CORONAVÍRUS: AUTORIDADES DE SAÚDE ADMITEM QUE TRANSMISSÃO É MUITO INTENSA

Como previsto pelo Ministério da Saúde, o aumento diário do número de casos confirmados e mortes pelo novo coronavírus continua crescendo em velocidade acelerada. A quantidade de óbitos confirmados de quinta-feira para ontem foi o maior já registrado pela pasta: ao todo, 60 mortes pela Covid-19 foram contabilizadas. 

Com isso, o país tem 359 mortes pela doença e outras 9.056 pessoas foram diagnosticadas. Questionado pelo Correio sobre quais lições a pandemia teria ensinado ao Brasil, a equipe do Ministério da Saúde afirmou que aprendeu que a transmissão do vírus é muito mais potente do que se imaginava.

“Aprendemos que este vírus se transmite de uma forma muito mais intensa do que nós imaginávamos, e o número de casos de pessoas assintomáticas ou com sintomas leves é muito elevado. O risco disso é que a possibilidade de transmissão, mesmo de pessoas assintomáticas ou com sintomas muito leves, é muito intensa”, respondeu o secretário-executivo do órgão, João Gabbardo.

Ele explicou que o aprendizado fez com que o Ministério mudasse a linha de resposta para a contenção do vírus. “Começamos trabalhando com uma linha de isolar as pessoas sintomáticas para diminuir o risco do contágio, mas, com o tempo, fomos percebendo que isso não seria suficiente”, salientou. Por isso, a contenção da atividade social é uma das principais recomendações.

O fato de pessoas sem sintomas estarem aptas à transmissão fez com que o Ministério mudasse até mesmo a indicação do uso de máscaras. No início, a pasta não as recomendava para a população. “Hoje, no transporte coletivo, por exemplo, se impõe a necessidade, porque isso protege as pessoas de uma transmissão”. Para isso, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, incentivou que as pessoas produzam as próprias máscaras e deixem as cirúrgicas para os profissionais de saúde.

No Brasil, 23 estados e o Distrito Federal registraram vítimas. Apenas Acre, Amapá, Roraima, Tocantins e Mato Grosso não confirmaram óbitos. São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará são as unidades da Federação com mais mortes. A taxa de letalidade chegou a 4%. No entanto, o aumento do percentual não é visto com preocupação por Mandetta, que afirmou que o aumento da testagem fará o número de casos de Covid-19 que circulam no Brasil aumentar e, consequentemente, a taxa de letalidade cair. (Correio Braziliense)
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O MODO DE FUNCIONAMENTO DA HUMANIDADE ENTROU EM CRISE, OPINA ATIVISTA SOCIOAMBIENTAL

O mundo está em suspensão. O momento é de recolhimento, de silêncio. A experiência do isolamento social, para enfrentar o horror do novo coronavírus, pode trazer lições valiosas à humanidade. “Se essa tragédia serve para alguma coisa é mostrar quem nós somos. É para nós refletirmos e prestar atenção ao sentido do que venha mesmo ser humano.  E não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. Tomara que não”, afirma o escritor Ailton Krenak, de 66 anos, um dos mais destacados ativistas do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas e doutor honoris causa pela Universidade de Juiz de Fora. 

Recolhido em sua aldeia no Rio Doce, o autor de Ideias para adiar o fim do mundo (Companhia das Letras) observa que o ser humano descolou-se da natureza e da sintonia com a terra, “devorada” por grandes corporações que controlam os recursos financeiros do planeta e persistem na concepção europeia colonizadora de que exista uma “humanidade”, enclausurada na maior parte de sua vida em ambientes artificiais. “Essa chamada humanidade, na verdade, constitui um grupo seleto que exclui uma variedade de sub-humanidades, caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes, que vivem agarradas à terra, aos seus lugares de origem, que são coletivos vinculados à sua memória ancestral e identidade. Esse grupo exclui também 70% das populações arrancadas do campo e das florestas, que estão nas favelas e periferias, alienadas do mínimo exercício do ser, sem referências que sustentam a sua identidade. São lançadas nesse liquidificador chamado humanidade”, acredita. 

Para Ailton Krenak, os seres humanos têm neste isolamento social pelo qual passa a maior parte do planeta uma oportunidade para a pausa e correção de rumos: “Todos precisam despertar. Se, durante um tempo, éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados de ruptura ou da extinção dos sentidos das nossas vidas, hoje estamos todos diante da iminência de a terra não suportar a nossa demanda. Tomara que, depois de tudo isso, não voltemos à chamada ‘normalidade’, pois se voltarmos é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro. Aí, sim, teremos provado de que a humanidade é uma mentira”.

A seguir, mais trechos da entrevista:
*No início do livro Ideias para adiar o fim do mundo, o senhor introduz uma discussão que parte da indagação: Somos mesmo uma humanidade?.  O senhor poderia responder à esta provocação, particularmente mais intrigante nestes tempos de pandemia: somos uma humanidade?

Eu penso que essa pergunta fica em suspenso. Vivemos esta experiência de isolamento social, como está sendo definida a experiência do confinamento, em que o mundo inteiro tem de se recolher. Ao mesmo tempo, assistimos a uma tragédia de gente morrendo em diferentes lugares do mundo, ao ponto de na Itália os corpos serem colocados em caminhões para incinerar, sem sequer ser identificados. Essa dor, talvez ajude as pessoas a responder a essa pergunta. Nós nos acostumamos com a ideia de que somos uma humanidade. Embora a ideia tenha sido naturalizada, ninguém mais presta atenção ao sentido do que venha mesmo ser humano. É como se tivéssemos várias crianças brincando que, por imaginar essa fantasia da infância, continuassem a brincar por tempo indeterminado. Viramos adultos, estamos devastando o planeta, cavando um fosso gigantesco de desigualdades entre povos e as sociedades. De modo que há uma sub-humanidade que vive uma grande miséria, sem chance de sair dela. Isso também foi naturalizado. O presidente da República disse outro dia que brasileiros vivem no esgoto. Esse tipo de mentalidade doente está dominando o planeta. E veja agora esse vírus, um organismo do planeta, responder a essa alienação dos humanos com um ataque à forma de vida insustentável que adotamos por livre escolha, essa fantástica liberdade que todos adoram reivindicar, mas ninguém se pergunta sobre o seu preço. Veja que esse vírus está discriminando essa humanidade. Ele não mata pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas humanos. Apenas a humanidade está sendo discriminada. Quem está em pânico são os povos humanos, o modo de funcionamento deles entrou em crise. Consolidaram esse pacote que é chamado de humanidade, que vai sendo descolada de uma maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos. Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam ficar agarrados nessa terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. Esta é a sub-humanidade: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes. Existe, então, uma humanidade que integra um clube seleto, vamos dizer, bacana. E tem uma camada mais rústica e orgânica, uma sub-humanidade, que fica agarrada na terra. Eu não me sinto parte dessa humanidade. Eu me sinto excluído dela. Por isso digo, no livro, que é um clube, seleto, que não aceita novos sócios.

**Filosoficamente, como interpreta a pandemia que acomete o mundo?

Estamos há muito divorciados desse organismo vivo que é a Terra. Do nosso divórcio das integrações e interações com a nossa mãe, a Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos, não só os que em diferente graduação são chamados de índios, indígenas ou povos indígenas, mas todos. Enquanto a humanidade está se distanciando do seu lugar, um monte de corporações espertalhonas tomam conta e submetem o planeta: acabam com florestas, montanhas, transformam tudo em mercadorias. Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade e nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza. Nós, a humanidade, vamos viver em ambientes artificiais produzidos pelas mesmas corporações, que são os donos da grana. Agora, já imaginou que esse organismo, o vírus, possa também ter se cansado da gente e nos “desligado”? Sabe como faz isso? Tirando o nosso oxigênio. Dizem que a Covid-19, quando evolui para os pulmões, se não tiver bomba, aparelho para alimentar de oxigênio, a pessoa morre. Quantas máquinas dessa vamos ter de fazer? Para 6 bilhões de pessoas na terra? A nossa mãe, a Terra, dá de graça o oxigênio, põe a gente para dormir, desperta de manhã com sol, dá oxigênio, deixa pássaros cantar, as correntezas, as brisas, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ele?  Isso pode significar uma mãe amorosa, que decidiu fazer o filho calar a boca pelo menos por um instante. Não é porque não goste dele, mas quer ensinar alguma coisa para ele. Filho, silêncio. A Terra está falando isso para a humanidade. E ela é tão maravilhosa que não é ordem imperativa. Ela simplesmente está dizendo para a gente: silêncio. Esse é também o significado do recolhimento.

***Os idosos, chamados de grupo de risco, em algumas abordagens são lembrados como algo descartável – do tipo, “alguns vão morrer”, como algo inevitável. Como avalia esta abordagem que parece arrancar toda e qualquer humanidade do indivíduo, tornando-o uma estatística?

Esse tipo de abordagem cria uma insegurança afeta as pessoas que amam os idosos, que são avós, pais, filhos, irmãos de outras pessoas, que estão na idade útil de trabalho. É uma palavra insensata, não tem sentido que alguém em sã consciência faça comunicação pública dizendo ‘alguns vão morrer’. É uma banalização da vida, mas também é uma banalização do poder da palavra. Pois alguém que faz uma emissão dessa está pronunciando a condenação. Seja diretamente dirigida a alguém em idade avançada, com 80, 90, 100 anos. Sejam os filhos, netos, ou todas as pessoas que têm afeto uns com outros. Imagine se vou ficar em paz pensando que minha mãe ou meu pai podem ser descartados. Eles são o sentido de eu estar vivo. Se eles podem ser descartados eu também posso. Olhando para além do Brasil, mirando o mundo, Foucault tem uma obra fantástica: Vigiar e punir. Nesse livro, diz que essa sociedade de mercado que vivemos, essa coisa mercantil, só considera o ser humano útil quando está produzindo. Com o avanço do capitalismo, foi criado um instrumento que é o de deixar viver e o de fazer morrer: quando deixa de produzir, passa a ser um custo. Ou você produz as condições para você ficar vivo ou produz as condições para você morrer. Essa coisa que conhecemos como a Previdência, que existe em todos os países com economia de mercado, ela tem um custo. Os governos estão achando que, se morressem todas as pessoas que representam custo, seria ótimo. Isso significa dizer: pode deixar morrer os que integram os grupos de risco. Não é ato falho de quem fala, a pessoa não é doida, é lúcida, sabe o que está falando.

****Como está a sua rotina, agora com o isolamento social?

Parei de andar mundo afora, suspendi compromissos. Estou com a minha família na aldeia krenak, no Médio Rio Doce. Já estávamos aqui de luto com o nosso Rio Doce. Não imaginava que o mundo faria esse luto conosco. Está todo mundo parado. Todo mundo. Quando os engenheiros me disseram que iriam usar a engenharia, a tecnologia para recuperar o Rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu disse: a minha sugestão é impossível de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a 100 quilômetros na margem direita e esquerda do rio, até que voltasse a ter vida. O engenheiro me disse: ‘Mas isso é impossível’. O mundo não pode parar. E o mundo parou. Desde muito tempo a minha comunhão com tudo o que chamam de natureza é experiência que não vejo muita gente que vive na cidade valorizando. Já vi pessoas ridicularizando, ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado no sentido comum que as pessoas. Há muito tempo não programo atividades para depois. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã.

*****Agora o prognóstico, ou algo do tipo: se continuarmos ao ritmo de sempre, em sua avaliação, que fim nos aguarda?

O ritmo de hoje não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão, de janeiro ou fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. Desconfio que não vai ser a mesma coisa depois. Se tiver depois. Tem muita gente que suspendeu projetos, atividades que estavam fazendo. As pessoas acham que basta mudar o calendário. Estão enganadas. Pode não haver o ano que vem. Em artigo que li sobre a pandemia, o sociólogo italiano Domenico de Masi cita a obra profética A peste, de Albert Camus: a peste pode vir e ir embora sem que o coração do homem seja modificado. Ele cita trecho inteiro do romance em que o personagem diz, aquele bacilo que trouxe aquela mortandade, que parece que tinha sido dominado, podia continuar oculto em alguma dobra, algum corrimão, janela, poltrona, só esperando o dia em que, infortúnio ou lição aos homens, a peste acordará seus ratos para mandá-los morrer numa cidade feliz. Este vírus que nos ameaça não é o mesmo na China, na Itália, nos Estados e no Brasil. Ele muda. E se muda, não sabemos o que é. Então seria muito bom parar de fazer projetos para amanhã, para o ano que vem e nos ater ao aqui e agora. Não tenho certeza nenhuma se no ano que vem tudo vai continuar a acontecer como se nada tivesse mudado. E tomara que não voltemos à normalidade, pois se voltarmos é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira. Se essa tragédia serve para alguma coisa, é nos mostrar quem nós somos. Estamos em suspensão. Vamos ver o que vai acontecer. (Fonte: Jornal Estado de Minas)
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ARARINHAS AZUIS ESTÃO DE VOLTA AO SERTÃO DE CURAÇÁ E HÁ 30 DIAS SE ADAPTANDO AO CALOR DA CAATINGA

São exatos 30 dias que as 52 Ararinhas Azuis retornaram à caatinga, sertão do Curaçá, Bahia. A esperança é renovada a cada dia, para se poder contemplar o voo das aves. São mais de 20 anos que isto não ocorre.

Com exclusividade a redação do BLOG NEY VITAL, mostra ao leitor fotos do Refúgio de Vida Silvestres da Ararinha Azul e a Área de Proteção Ambiental. Estes são os locais destinados à reintrodução Ambiental e conservação do bioma da caatinga, localizado na Fazenda Caraíbas. 

Desde o momento de chegada ao  Centro de Reprodução e Soltura em Curaçá, as Ararinhas foram admitidos em quarentena, com a supervisão das autoridades do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) no local. Cada ave foi retirada da caixa de transporte e teve a leitura de chip realizada. As ararinhas-azuis foram liberadas no aviário, mantendo o isolamento com o ambiente externo e outros animais pelo prazo de 30 dias.

De acordo com informações obtidas pela reportagem do BLOG NEY VITAL não houve mortalidade e as aves chegaram em ótimo de saúde estão comendo e bebendo normalmente; elas estão calmas e confortáveis em suas novas habitações e se acostumando com o clima da Caatinga. 

Para auxiliar na recuperação dos animais está sendo fornecida a eles a mesma alimentação que tinham na Europa. A comida para as ararinhas-azuis foi trazida no avião junto com as aves, com toda certificação e autorização pelo MAPA.

Anualmente, 70% de todos os filhotes produzidos serão enviados para o Centro de Reprodução e Soltura em Curaçá para serem reintroduzidos na Caatinga. Este processo é importante para que as aves que serão soltas em breve, bem como as que ficarão em cativeiro para reprodução, tenham a máxima diversidade genética possível e com isso se minimize os riscos de cruzamento de ararinhas-azuis com parentesco muito próximo, o que poderia comprometer o processo de reintrodução na natureza.

Detalhe: Descoberta há mais de 200 anos pelo naturalista alemão Johann Baptist Ritter von Spix, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) não é observada na natureza desde que o último exemplar, um macho, desapareceu em outubro de 2000. Passados 20 anos desde sua última aparição, a espécie finalmente poderá voltou a habitar as matas de Curaçá, no sertão da Bahia, como resultado de um esforço conjunto que vem sendo desenvolvido desde 1986, quando foi descoberta a última população selvagem de apenas três indivíduos. 

A formalização desta iniciativa ocorreu em 1990, quando o Ibama criou o Comitê Permanente para a Recuperação da Ararinha-azul. Desde então, entre muitas idas e vindas e contando com o esforço de inúmeras organizações, fundações internacionais. O projeto vem dando bons frutos, um deles é a repatriação de 52 ararinhas-azuis provenientes da instituição alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP).
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